sexta-feira, 18 de janeiro de 2013


[o artista calígrafo japonê] deve obter do seu corpo e do seu espírito uma espécie de suspensão das intenções costumeiras do espírito que estão associadas a hábitos, a disposições do corpo. (...) Todo o contrário de uma acitividade identificadora, selectiva, conquistadora, este esvaziamento, esta evacuação, não acontece sem sofrimento. (...) Perde-se a fruição do adquirido. (...) No que nós chamamos pensar, não se "dirige" o espírito, suspende-se o espírito. Não se lhe dá regras, ensina-se-lo a acolher. (...) A dor de pensar não é um sintoma. (...) Ela é o próprio pensamento enquanto este se resolve à irresolução, decide ser paciente, quer não querer, quer, justamente, não querer dizer em lugar do que deve ser significado. (...) Donde que o sofrimento de pensar é um sofrimento do tempo, do acontecimento. Se este sofrimento marca o verdadeiro pensamento é porque (...) pensamos no meio desse mundo de inscrições já feitas, digamos: cultura, se quiserem. (...) O não-pensado faz sofrer porque nos mantemos no já pensado.
extractos de: Jean-François Lyotard, L’Inhumain (Paris: Galilée, 1988), trad informal MCC

Sem comentários:

Enviar um comentário