[o
artista calígrafo japonê] deve obter do seu corpo e do seu espírito uma espécie
de suspensão das intenções costumeiras do espírito que estão associadas a
hábitos, a disposições do corpo. (...) Todo o contrário de uma acitividade
identificadora, selectiva, conquistadora, este esvaziamento, esta evacuação,
não acontece sem sofrimento. (...) Perde-se a fruição do adquirido. (...) No
que nós chamamos pensar, não se "dirige" o espírito, suspende-se o
espírito. Não se lhe dá regras, ensina-se-lo a acolher. (...) A dor de pensar
não é um sintoma. (...) Ela é o próprio pensamento enquanto este se resolve à
irresolução, decide ser paciente, quer não querer, quer, justamente, não querer
dizer em lugar do que deve ser significado. (...) Donde que o sofrimento de
pensar é um sofrimento do tempo, do acontecimento. Se este sofrimento marca o
verdadeiro pensamento é porque (...) pensamos no meio desse mundo de inscrições
já feitas, digamos: cultura, se quiserem. (...) O não-pensado faz sofrer porque
nos mantemos no já pensado.
extractos de: Jean-François Lyotard, L’Inhumain (Paris: Galilée,
1988), trad informal MCC
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